Semifinais da Libertadores 2025 reforçam modelo associativo e travam “Era das SAFs”
Flamengo e Palmeiras lideram receitas e exibem dívida controlada; Atlético-MG e Botafogo, como SAFs, mostram alavancagem elevada e ficam pelo caminho
O que aconteceu
As meias-finais da Copa Libertadores de 2025 reúnem quatro clubes sob modelo associativo — Flamengo, Palmeiras, LDU (Equador) e Racing (Argentina) — contrariando a narrativa de supremacia das Sociedades Anónimas do Futebol (SAF). Em 2024, o Botafogo (SAF) venceu a Libertadores e o Brasileirão, impulsionado por investimento do seu proprietário, John Textor, mas falhou em 2025 (eliminação nos oitavos). O Atlético-MG (SAF), finalista em 2024, nem se qualificou.
Por Que Importa
- Receitas e sustentabilidade: em 2024, o Flamengo faturou €204 M (R$ 1,287 B) e o Palmeiras €179 M (R$ 1,128 B), liderando no Brasil, segundo o relatório Convocados 2025 (Outfield/Galapagos Capital).
- Alavancagem sob controlo: rácios dívida líquida/receita foram 0,5 no Flamengo e 0,7 no Palmeiras — próximo do limiar “ideal” —, sinalizando menor risco financeiro e maior capacidade de investimento recorrente.
- SAFs com risco elevado: o Atlético-MG apresentou rácio 3,8 e o Botafogo 2,2; o balanço de 2024 do Botafogo mostrou prejuízo de €47 M (R$ 299 M), pior que a projeção do estudo.
- Estratégia vs. forma jurídica: performance desportiva recente sugere que governança e gestão pesam mais do que a natureza jurídica (SAF vs. associativo) para competitividade e retorno do investimento (ROI).
Contexto
- Desde a institucionalização das SAFs no Brasil, só em 2024 uma SAF venceu a Libertadores; nos restantes anos, clubes associativos (ou equivalentes nos países vizinhos) dominaram.
- Em Espanha, apesar do regime de Sociedades Anónimas Desportivas (SAD) ter vigorado por décadas, Real Madrid e Barcelona — ambos associativos — mantiveram hegemonia; SADs conquistaram apenas 7 títulos da LaLiga em 35 épocas.
- Na Argentina, o Racing e a maioria dos clubes mantêm-se associativos e posicionaram-se contra a adoção do modelo SAD proposto pelo governo de Javier Milei.
Entre Linhas
- A disciplina financeira de Flamengo e Palmeiras — com receita robusta e dívida gerível — traduz-se em vantagem estrutural sobre projetos altamente alavancados, mesmo quando estes contam com capital de investidores externos.
- A LDU reforça o modelo associativo com o projeto “Socios del Fútbol”, aprofundando engajamento e base de receitas de sócios como alternativa a capital externo.
Números
- Brasileirão 2025: Flamengo e Palmeiras lideram com 61 pontos; Cruzeiro (SAF) segue a 5 pontos e com um jogo a mais.
- Botafogo 2024: prejuízo de €47 M (R$ 299 M).
- Rácios dívida/receita (2024): Flamengo 0,5; Palmeiras 0,7; Atlético-MG 3,8; Botafogo 2,2.