Real Madrid prepara abertura a investimento externo mantendo controlo dos sócios
Florentino Pérez quer levar à assembleia uma reorganização societária que separe operações comerciais do futebol e possibilite entrada de capitais, sem perda de comando pelos sócios.
O que aconteceu
O Real Madrid está a acelerar planos para alterar, de forma histórica e controversa, o seu modelo de propriedade: pela primeira vez, permitir a entrada de investidores externos. A proposta, a apresentar por Florentino Pérez na próxima assembleia (prevista até final de novembro, data não confirmada), passará por separar o negócio do futebol, abrindo o primeiro a capitais privados, mantendo o clube formalmente nas mãos dos sócios.
Por Que Importa
- Potencial para captar capital fresco para reforçar a equipa e/ou amortizar a remodelação do Bernabéu, sem “cash-out” individual. Valores e termos ainda não divulgados.
- Modelo pode criar novas fontes de monetização (receitas do estádio, patrocínios, licenciamento), preservando o controlo dos sócios — referência ao princípio alemão 50+1 (50% mais um voto).
- Investidores podem ver risco de baixo controlo (minorias sem gestão), pressionando a valorização e o custo de capital; monetização de uma quota até 49% pode ser menos atrativa.
- Sinal estratégico numa La Liga dominada por sociedades anónimas desportivas: Barcelona, Athletic e Osasuna são as outras exceções pertencentes a sócios.
Contexto
- O Madrid é o único clube a superar €1,0455 mil M (€1,0455 mil milhões; £910 M; US$1,2 mil M) em receitas em 2023/24 (Deloitte), reforçando capacidade de atrair investidores institucionais.
- Já recorreu a parceiros financeiros para o Bernabéu: Providence (€200 M + €50 M), Sixth Street (€360 M) e Legends (retalho e F&B), com criação de uma empresa ‘Bernabéu’ para atividades não futebolísticas.
- Em 2012, os estatutos passaram a exigir 20 anos de antiguidade como sócio e garantia de 15% do orçamento anual para candidaturas à presidência (ex.: 15% de €1,1 mil M em 2024/25).
Entre Linhas
- Discussões com Key Capital Partners e Clifford Chance indicam desenho jurídico-fiscal complexo; separar "negócio" de "futebol" pode reduzir risco regulatório, mas exige enquadramento claro de direitos sobre receitas de transmissão e exploração do estádio.
- Bilhética de época a preços relativamente baixos versus pacotes VIP pode colidir com a tese de rentabilização do ativo estádio para investidores; manter a base de sócios locais é prioridade política de Pérez.
E agora?
- A direção deverá detalhar o perímetro do ativo a abrir a investimento (patrocínios, retalho, hospitalidade, eventos, direitos não centralizados) e salvaguardas de governação.
- Referendo aos sócios definirá o mandato para avançar; qualquer solução fora do 50+1 enfrentará resistência reputacional e possível desconto de avaliação por parte de investidores.