Estudiantes quase virou laboratório para sociedades anónimas desportivas na Argentina após promessa de €102,2 M
O investimento de Foster Gillett em Estudiantes e Rampla Juniors expôs oportunidades e riscos das sociedades anónimas desportivas (SAD) no Cone Sul, entre ambição financeira e promessas por cumprir.
O que aconteceu
Nos últimos meses, o Estudiantes de La Plata avançou para um acordo com o empresário norte‑americano Foster Gillett, anunciado com um investimento de €102,2 M (US$120 M), apesar da oposição da Associação do Futebol Argentino (AFA) ao modelo de sociedades anónimas desportivas. O plano esbarrou em pagamentos em atraso, dúvidas sobre governação e conformidade regulatória (incluindo uma tentativa de pagamento direto numa transferência recorde), e nunca foi levado a assembleia de sócios. Em paralelo, no Uruguai, Gillett assumiu o controlo do futebol profissional do Rampla Juniors com €0,85 M (US$1 M) para saneamento e plantel, mas o projecto rapidamente acumulou salários em atraso e maus resultados.
Por Que Importa
- Governação e controlo: o caso ilustra o choque entre o modelo associativo argentino (“o clube é dos sócios”) e a entrada de capital externo com poderes de decisão — risco de perda de controlo e opacidade contratual.
- Compliance e risco regulatório: pagamento direto de Gillett numa transferência violou normas da FIFA, expondo risco de sanções e custo reputacional para clube e investidor.
- Sustentabilidade financeira: promessas de €102,2 M (US$120 M) e adiantamentos de €8,52 M (US$10 M) fracionados afetaram janelas de mercado e planeamento desportivo, comprometendo retorno do investimento (ROI) e performance.
- Mercado regional: o contraste com o Uruguai, onde as SAD estão normalizadas, mostra como o enquadramento regulatório define o apetite de investimento e a estabilidade dos projectos.
Contexto
- A tentativa de reforma legal do Presidente Javier Milei abriu espaço às SAD na Argentina, mas a AFA reforçou a proibição e a retórica “o clube pertence aos sócios”.
- Juan Sebastián Verón, presidente do Estudiantes, defende investimento privado como alavanca para competir em receitas com Boca Juniors e River Plate.
Entre Linhas
- Termos do acordo com o Estudiantes mudaram e não foram totalmente divulgados (valores não divulgados para comissões/honorários e direitos de governação), alimentando resistência interna e de adeptos.
- No Rampla Juniors, a sobrevivência operacional dependeu de um fundo fiduciário da federação uruguaia — sinal de fragilidade do fluxo de caixa inicial do investidor.
Números
- Investimento prometido no Estudiantes: €102,2 M (US$120 M) — estrutura e prazos não confirmados.
- Adiantamento previsto: €8,52 M (US$10 M); segunda parcela chegou após fecho do mercado.
- Tentativa de contratação recorde: Cristian Medina por €12,78 M (US$15 M), renegociada após alerta da AFA.
- Rampla Juniors: entrada de €0,85 M (US$1 M) para dívidas e plantel; salários em atraso e série sem vitórias até junho.
E agora?
- No Estudiantes, a revisão documental foi adiada para dezembro (não confirmado se avançará); sem assembleia marcada, cenário aponta para reavaliação ou abandono do acordo.
- No Uruguai, Gillett diz manter apoio ao Rampla, mas com envio de fundos abaixo do prometido, colocando em causa planos de infraestrutura e competitividade a curto prazo.